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Cinzas


Não perdi nada, mas perdi tudo. Perdi a cabeça e o norte. Quando num abrir e fechar de olhos vi as chamas na minha cidade, em Santa Comba Dão.
Eu que vivo no centro tive medo do que podia acontecer apesar de estar perto do quartel dos bombeiros. Sem luz e sem comunicações a única forma de saber de alguns familiares foi a correr pela cidade, ficando a angústia de não saber daqueles que estavam nas aldeias.
Amigos e conhecidos perderam casas, carros e postos de trabalho. Cinco pessoas perderam a vida.
O cheiro a fumo vai desaparecer, mas nada apaga a dor e o sentimento de impotência.
Restam agora os relatos de desespero e as lágrimas. Restam as boas ações e a recolha de bens.
Ainda não há luz, água nem comunicações em muito lado.
Os dias 15 e 16 de outubro serão sempre o dias das cinzas. E o ano de 2017 será mais um para a história fatídica dos incêndios.
As conspirações do negócio do fogo e a demissão ministra não interessam para esta equação. Importa perceber os estragos. Saber quem precisa de ajuda e de que ajuda.
Temos de nos unir. De reflectir.
Temos de perceber o que falhou. Desde a falta de limpezas florestais, aos sistemas de comunicações, à organização. Temos de saber para sermos mais eficazes.
Aos bombeiros e a todos os que salvaram pessoas e bens não há como agradecer.
Os soldados da paz merecem mais do que um obrigado, merecem ser reconhecidos. Para mim, mais bombeiros deviam ser profissionais e receber ordenado e os voluntários deviam recompensados.
Por fim, deixo mais um desabafo, este dirigido aos nossos governantes: não se esqueçam de que quando votamos é para sermos governados e isso pressupõe ação. Está na hora!

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